Opinião

Olga Simbalista, da Aben: Novo fôlego para o setor nuclear no Brasil

Um país do porte do Brasil não pode ficar refém de pressões externas, que, muitas vezes, nos impedem de fazer uso soberano de nossas vastas e preciosas reservas minerais

Por Olga Simbalista

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A comemoração dos 36 anos de criação da Aben coincidiu com a mudança de sua diretoria, ocasião em que se realizou uma retrospectiva dos últimos dois anos do setor nuclear no Brasil.

Há dois anos, a posse da diretoria do biênio 2016/2018 foi marcada por uma tarde de violência no centro do Rio de Janeiro, com explosão de bombas, queima de veículos, quebra de vitrines, o que culminou no fechamento dos estabelecimentos desta região e sem a possibilidade de os convidados à solenidade se fazerem presentes.

Seria um mau presságio para a associação, bem como para o setor nuclear brasileiro, que vivia momentos de enormes dificuldades com a paralisação da construção de Angra 3, sem perspectivas de retomada e com a Eletronuclear iniciando a amortização dos financiamentos desta planta, muito antes de sua conclusão, e sem receita para tanto. Além disso, havia a ameaça de não dispor de recursos para a compra do combustível nuclear, comprometendo a sobrevivência da Indústrias Nucleares do Brasil - INB. Adicionalmente, os recursos para o Programa da Marinha do Brasil passaram a ser contingenciados, o Reator Multipropósitos Brasileiro – RMB não conseguia obter o impulso necessário à sua implantação e as áreas de pesquisas careciam de recursos humanos e orçamentários. O contexto político não sinalizava qualquer prioridade para as atividades nucleares, diante da grave crise institucional e econômica pela qual passava o país.

Entretanto, decorridos dois anos, pudemos constatar que foram anos maravilhosamente profícuos, marcados com a retomada das atividades do Comitê de Coordenação do Programa Nuclear Brasileiro, em junho de 2017, sob a coordenação do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República e que, ao final de 2018, culminou seus trabalhos com a edição da Política Nuclear Brasileira.

Outros fatos de maior relevância também precisam ser citados como: a criação da Agência Naval de Segurança Nuclear e Qualidade, no âmbito da Marinha do Brasil; a comemoração dos 30 anos do Reator IPEN/MB-01 e a colocação de um novo núcleo de combustível tipo placa totalmente fabricado no país; a comemoração dos 30 anos da conquista, pela Marinha do Brasil, do processo de enriquecimento isotópico pela ultracentrifugação; o lançamento da Pedra Fundamental do RMB; o início dos testes de integração dos turbogeradores ao reator do Labgene, que é o protótipo do reator para o submarino nuclear; a inauguração, em Resende, da Sétima Cascata de Enriquecimento da INB; licenciamento ambiental da nova mina de urânio em Caetité; o fornecimento de urânio enriquecido à Argentina;  e a aprovação, pelo Conselho Nacional de Política Energética - CNPE, da nova tarifa de Angra 3 e de demais providências para a sua retomada.

Tantas realizações, em momento bastante adverso, de grandes dificuldades, entretanto, nos fazem antever um futuro extremamente promissor, com a indicação do Almirante Bento ao posto de ministro de Minas e Energia. Seu currículo de realizações nos dá a certeza que, diferentemente de outros titulares dessa pasta com objeção ao uso da energia nuclear, ou mesmo com vergonha de defendê-la, ele saberá conduzir as atividades do setor com altivez, soberania e responsabilidade. Um país do porte do Brasil não pode ficar refém de pressões externas, que, muitas vezes nos impedem de fazer uso soberano de nossas vastas e preciosas reservas minerais, de dominar tecnologias sensíveis, fazer uso da fonte nuclear para a produção de energia, propulsão naval, usos na medicina e diversos outros.

E fechando 2018 com chave de ouro, tivemos, no dia 14 de dezembro, o lançamento ao mar do submarino Riachuelo, consagrando a primeira etapa do programa PROSUB da Marinha do Brasil e que culminará, em breve, no lançamento ao mar do submarino Nuclear Almirante Álvaro Alberto, colocando o país em um restrito grupo de nações dominando tal tecnologia.

A todos os nossos que contribuíram para tão grandes realizações, nossos mais sinceros agradecimentos e nossos votos de maiores realizações nos próximos anos.

Olga Simbalista foi presidente da Aben no período 2016/2018.

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