Opinião

Olga Simbalista, da Aben: o panorama da energia nuclear em 2018

Existem, atualmente, mais de 50 plantas em construção e cerca de 150 planejadas; além disso, 14 novas unidades devem entrar em operação no mundo

Por Olga Simbalista

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A energia nuclear passou, recentemente, por uma série de desafios provocados pelos baixos preços do gás natural, subsídios às fontes renováveis e ao baixo crescimento da demanda em algumas regiões.

Porém, especialistas em questões energéticas e ambientais dizem ser impossível, para economias de grande porte, dispor de uma fonte confiável e com baixa emissão de carbono, sem contar com a participação da energia nuclear.

Existem, atualmente, mais de 50 plantas em construção e cerca de 150 planejadas. Além disso, 14 novas unidades devem entrar em operação, sendo duas, o AP1000 da Westinghouse e o EPR da Framatome da denominada nova geração de reatores nucleares, bem como o primeiro APR1400 dos Emirados Árabes, fornecidos e construídos pela sul-coreana Kepco, dentro do prazo e do orçamento, sinalizando que esta fonte pode ser construída economicamente em prazos previsíveis.

No Oriente Médio, 3,6 GW deverão entrar em operação este ano e 14,1 GW até 2028, devido a políticas de garantir segurança energética e de reduzir o uso intensivo de combustíveis fósseis, uma vez que estes, hoje, são responsáveis por 97% da produção de eletricidade na região. Mais um desafio para os planejadores é buscar soluções para atender a crescente demanda de eletricidade na região – com previsão de crescimento de cerca de 30% até 2028, comparada a uma taxa de crescimento médio global de 18%, no mesmo período.

Importante fator de impulso à energia nuclear são as reestruturações de grandes conglomerados, como a absorção da Areva pela Framatome, na França, com a maior empresa operadora de reatores nucleares do mundo, a Eletricité de France - EdF, passando a ser sua proprietária. Essa nova estrutura é um dos fatores que permitiu à EdF e sua homóloga indiana Nuclear Power Corporation of India assinar um acordo estratégico para a construção da “maior central nuclear do mundo”, composta de seis reatores EPR de 1600 MW, totalizando 9,6 GW, durante recente visita oficial do Presidente da França, Emmanuel Macron, a Nova Deli.

Outras reestruturações internacionais de destaque foram a compra da Westinghouse Electric Company pela canadense Brookfield Asset Partners, permitindo a conclusão de AP1000s e a fusão da segunda maior proprietária de reatores do mundo, a China National Nuclear Company, com a China Nuclear Equipament Company, com 100.000 empregados e focada no mercado internacional.

O aumento das emissões de CO2 decorrentes do uso de usinas de gás natural, em substituição a outras fontes de energia, também tem levado a uma crescente escolha de plantas nucleares. Adicionalmente, essa grande dependência do uso do gás natural, nos EUA, diante de uma política de exportação deste energético a partir de 2022, bem como da dificuldade de construir novos gasodutos, podem levar a um crescimento dos custos desta commodity.

Outro fator que incentiva o uso da energia nuclear são os progressos na área e inovações, principalmente no que se refere aos denominados reatores de pequeno porte (Small Nuclear Reactors - SMR), que podem ser construídos em uma fábrica e enviados ao local de uma planta.

E, finalizando, ressaltamos que o Canadá, o segundo maior produtor mundial de urânio, passou a apostar na energia nuclear para reduzir sua pegada de carbono e quer encorajar a comunidade internacional a incorporar esta tecnologia na luta contra as mudanças climáticas. Trata-se de uma mudança radical por parte do governo de Justin Trudeau, cujo "Marco Pan-canadense para o Crescimento Limpo e as Mudanças Climáticas", apresentado em dezembro de 2017, não menciona a energia nuclear.

Com relação ao Brasil, o futuro da energia nuclear, a curto prazo, passa pela retomada da construção de Angra 3. Em 20/03/2018, o tema foi objeto de reunião no Ministério de Minas e Energia, comandada pelo Ministro Fernando Coelho, para equacionar o endividamento da Eletronuclear junto ao BNDES e Caixa Econômica Federal, relativos a esta usina e que já estão sendo amortizados, sem que ela gere receita, primeiro passo para a retomada.

O segundo passo será a definição de sua tarifa, em um valor que permita remunerar o empreendimento, pagar suas dívidas e atrair potenciais parceiros.

A médio prazo, outras plantas deverão ser definidas, de modo a equacionar o problema da crescente participação de fontes intermitentes, eólica e solar, na matriz elétrica, e que requer a existência de uma substituição rápida, a ser provida pelos reservatórios das usinas hidráulicas existentes, colocando as nucleares operando na base do sistema.

A importância das nucleares na confiabilidade e no custo de geração brasileiro é ressaltada pelo Operador Nacional do Sistema - ONS, destacando que as operações de Angra 1 e Angra 2 permitem aumentar o nível dos reservatórios das hidráulicas em 0,9% ao mês - cerca de 12% ao ano - minimizando a necessidade de operar térmicas caríssimas. Simulações do ONS indicam que, caso essas usinas deixassem de operar em 2019, as tarifas brasileiras  sofreriam um acréscimo geral de 5,1%.

Olga Simbalista é presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben)

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