Opinião

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Precisamos das hidrelétricas para avançar com eólica e solar

Praticamente seis em cada 10 kW produzidos em nosso território precisam ser compensados pelas hidrelétricas que aumentam sua produção à noite enquanto as fontes fotovoltaicas param e as eólicas produzem pouco

Por Luiz Eduardo Barata

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O avanço das fontes renováveis no Brasil é um importante passo na direção da sustentabilidade e da proteção do planeta. No entanto, para que possamos consolidar essa transformação, torna-se cada vez mais essencial olhar novamente para a potência e estabilidade de nossas águas, mesmo com as secas que temos visto. As fontes eólica e solar são intermitentes e não gerenciáveis. Não controlamos o Sol nem os ventos e, na medida em que utilizamos quantidade maior de energia dessas fontes, torna-se mais complexa a operação do sistema elétrico brasileiro.

Nossa matriz elétrica sofreu uma profunda transformação nas últimas décadas com a maior diversificação das fontes de energia e uma intensa instalação de usinas eólicas e fotovoltaicas, estas ligadas nas redes de transmissão e de distribuição ou como geração distribuída. Em 1985, a matriz brasileira era 90% hidroelétrica. Em 2023, o Balanço Energético Nacional (BEN) da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) indica que 62% da energia elétrica do país vêm das águas. Praticamente seis em cada 10 kW produzidos em nosso território precisam ser compensados pelas hidrelétricas que aumentam sua produção à noite enquanto as fontes fotovoltaicas param e as eólicas produzem pouco.

Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o Brasil tem em operação 216 usinas hidrelétricas de grande porte, 425 pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e 704 centrais geradoras hidrelétricas (CGHs). De acordo com a Agência Internacional de Energia, os países que mais utilizam esse tipo de geração são Brasil, China, Canadá, Rússia e Estados Unidos, todos com extensas faixas territoriais.

Nosso robusto parque hidroelétrico é que segura o tranco, adaptando-se à nova realidade para a qual não foi projetado e fornecendo uma flexibilidade essencial, mas que também não foi contratada ou precificada. Cerca de 1/3 das usinas brasileiras têm mais de 40 anos de operação. Ainda assim, são essas estruturas que hoje suportam o crescimento das eólicas e solares.

No entanto, essa transformação renovável tão bem sucedida e bem-vinda se conjuga com uma forte rejeição à instalação de novas usinas hidrelétricas, muito associadas a grandes impactos ambientais e abre espaço para uma intensa campanha pela instalação de usinas termelétricas a gás natural para cobrir a intermitência das renováveis, como se as térmicas não fossem muito mais caras e poluentes.

Neste momento em que as mudanças climáticas já são realidade e constatamos uma intensificação dos eventos extremos, seja na gravidade ou na frequência, evitar a instalação de mais fontes geradoras de gases de efeito estufa é a medida mais adequada. Por outro lado, o potencial hidrelétrico brasileiro ainda não se esgotou e deveríamos voltar a olhar para ele, não como problema, mas como solução.

Temos total condição de preservar integralmente as áreas protegidas de meio ambiente e de posse dos povos originários, e ainda ter espaço para o aproveitamento hidrelétrico planejado e responsável, seja na implantação de usinas de médio porte sejam as pequenas e minicentrais hidrelétricas. Devemos ainda direcionar nossa atenção para as usinas reversíveis, que abandonamos há quase cem anos quando vislumbramos a possibilidade dos grandes reservatórios, o que certamente não deveremos fazer mais. As reversíveis geram e armazenam grandes quantidades de energia em um espaço menor.

Nossa solução hidráulica centenária precisa se adaptar aos novos tempos em um novo contexto climático, econômico e social, mas continua indispensável como sempre. Se quisermos mesmo avançar mais com as fontes renováveis de forma realmente sustentável e promover uma transformação energética efetiva, a variável hidrelétrica faz parte dessa equação.

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