Opinião

Pré-sal, tecnologia e mudança estrutural

Resultados da produção do pré-sal no longo prazo se mostraram determinantes para a mudança estrutural em curso liderada pelo setor mineral no Brasil e traz luz à discussão sobre a importância do avanço tecnológico no setor de óleo e gás

Por Osmani Pontes

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Mudanças estruturais são sempre motivo de observação atenta por parte dos economistas, afinal são elas que condicionam boa inserção comercial do país e são causadas por variações nas quantidades e não nos preços. Portanto, ocorre quando há aumento das exportações não unicamente por depreciações cambiais ou elevações dos preços exportados, mas quando há aumento de produção, elevando o excedente exportável, sem causar redução da oferta (e desabastecimento) no mercado interno. Ou seja, a economia fica mais resiliente a choques externos nos preços e na taxa de câmbio.

No Brasil, estamos acompanhando esse movimento em diversos segmentos do setor primário, notadamente na produção de petróleo. Em setembro, o país atingiu a marca de 4,65 milhões de barris/dia, um recorde. Em novembro, novo recorde com 4,7 milhões de barris/dia. Segundo dados da ANP, a maior parcela de petróleo extraído provém das águas do pré-sal.

Esse aumento de produção está na raiz da melhora de expectativas de produção de petróleo para 2024 que fez o mercado se antecipar e comprar ações da Petrobras, apostando ainda na alta dos preços do brent (7,8% em janeiro), na não apreciação do real e, sobretudo, na estimativa de distribuição de 7 bilhões de dólares em dividendos referentes ao balanço de 2023. Todo esse movimento foi reforçado pelo piloto da política de recompra de ações PN da empresa, na monta de 157,9 milhões de ações, baseado na ideia de que o valor em circulação das ações estava abaixo do razoável. Assim, a tese do investimento foi exitosa, gerando valor de mercado recorde para a Petrobras no final de janeiro, a 552 bilhões de reais.

Mas na raiz dessa percepção está a redução do custo do pré-sal. Isso confirma a ideia de que a exploração nas águas do pré-sal foi exitosa, exibindo elevados custos operacionais no começo do ciclo de extração, mas diluição de custos fixos na medida em que os retornos de produção aumentam.

No final dos anos 2000, logo após o anúncio da descoberta do pré-sal, um diretor da Petrobras dava uma entrevista à Rádio CBN quando o jornalista pergunta algo do tipo “Mas vale mesmo esse investimento? Vocês fizeram alguma previsão de longo prazo?” A pergunta aparentemente óbvia se deu pelo fato de que os retornos demorariam cerca de uma década. A resposta foi que sim, afinal todos os estudos eram baseados em probabilidades.

Isso evidencia a importância da tecnologia para o investimento de uma empresa do porte da Petrobras no setor. Foi graças a essa tecnologia que a exploração do pré-sal se viabilizou, ao apontar que os retornos de longo prazo gerariam compensação de custos e hoje vemos exatamente a produção relativa a esse investimento sendo determinante para melhora da condição econômica do Brasil e de seu balanço de pagamentos.

Se por um lado há um dilema, uma vez que essa pujança do pré-sal serve como um desincentivo natural à transição energética, por outro mostra que a tecnologia é fundamental para orientar as decisões de produção e investimento. Assim, sabendo da importância do setor de óleo e gás para os termos de troca da economia, nenhuma política de transição energética logrará sucesso desconsiderando que a Petrobras hoje dispõe de tecnologia sofisticada o suficiente para conciliar transição energética e extração de óleo e gás como apontam diversos estudos da empresa, sobretudo em áreas que exigem maior atenção ambiental.

 

 

Osmani Pontes é economista, com MBA em mercados de derivativos, opções e futuros pelo INSPER e em gestão de portfólios cambiais pela EPGE/FGV. Escreve mensalmente na Brasil Energia.

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